Miliumas

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O livro em Movimento

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Sete Fios Dágua Mata -Contos do folclore do Pará
















MATA
Oficina para educadores
Sete Fios Dágua

Mata, de Heloisa Prieto, vira tema de oficina para educadores no Centro de Referência Mario Covas.
O conto Sete Fios d'Água reúne lendas do folclore do Pará recontadas pela figura de Dona Mariana. São história do nosso folclore! O texto favorece a fluência da dinâmica onde cada uma das sete etapas do conto é representada por uma técnica diferente. O trabalho com este livro aponta movimentos para o incentivo a leitura em performances realizadas por educadores da rede estadual de ensino e Febem.

Resumo de Sete Fios d'Água:

Era uma vez um menino que foi encontrado a margem de um igarapé. Um bebê lindo, gordinho, sorridente! Parecia um boneco vivo, deixado ali, para quem quisesse um filho.
Naquela região do Pará, a maioria das mulheres são negras e morenas, de olhos bem escuros. Como o bebê era loirinho, de olhos d'água, várias moças quiseram adotá-lo.

(PRIMEIRA MÃE)
O bebê ficou um tempo com a ama de leite enquanto as mães o disputavam.
Depois de muita briga na vila, a ama do menino, que já se considerava a mãe dele sentiu um longo fio de água passar por suas mãos, teve uma idéia e declarou o seguinte: "Quem vai escolher a mãe é o próprio bebê. A casa onde ele for mais feliz será o seu lar". Assim que ela disse essas palavras o bebê acenou a mãozinha para outra jovem e a ama teve que entregá-lo para não se contradizer.


(SEGUNDA MÃE)
A segunda mãe era bem jovem. Seu filhinho havia morrido durante o sono: ela ainda conservava o berço, o quarto, as roupinhas bordadas. O bebê de olho d'água sorriu quando ela o pegou no colo. Assim que o deitaram no berço, ele dormiu profundamente. A casa daquela jovem, onde antes habitava só a saudade, ganhou cores e alegria. O amor do bebê uniu novamente o casal que havia se calado diante de tanto sofrimento. Cada momento do dia parecia uma festa para a mãe: a hora de dar de comer, a hora de levar seu maravilhoso bebê para um banho de sol e principalmente a hora do banho. O bebê amava a água mais do que todas as coisas! Ria , brincava na banheira e cada vez que jogava pingos para o ar, formava pequeninos arco-íris que encantavam os olhos. Em meio a tanta felicidade, a mãe ficou grávida novamente. E, na festa de um ano do menino do Igarapé, a celebração era dupla. Porém, para grande surpresa de todos, depois que o bebê dágua apagou a primeira vela, atirou-se no colo de outra jovem mãe, e não houve quem a afastasse dela.


(TERCEIRA MÃE)
A jovem grávida ficou enciumada, tentou arrancá-la do colo da outra. Ela já estava apaixonada pelo bebê e fugiu para o quintal tentando mantê-lo em seu colo. Quando uma mãe se defrontou com a outra, um leve fio d'água derramou-se pelo calos cabelos da grávida. Neste momento, ela percebeu que seu tempo havia terminado, que o bebê d’água lhe trouxera muita felicidade e um novo filhinho.
Por que será que ele desejava outra mãe?”Pensou a segunda. Bem, a terceira mãe levou o menino embora. Ao contrário da casa da segunda, a dela vivia repleta de crianças. Muito jovem, seu marido morreu num acidente de barco. Também nessa casa, com a chegada no novo bebê, a felicidade aumentou. A alegria fez com que as rugas desaparecessem do rosto da viuvinha, que seu cabelo brilhasse mais, assim como seus olhos. Em pouco tempo, a jovem tinha uma fileira de apaixonados.
A viúva escolheu um belo marido, honesto, simpático e trabalhador. Na festa de casamento, o que aconteceu? O bebe d’água, que agora já era um menino, resolveu saltar para o colo de outra mãe. Não houve quem o afastasse dela.


(QUARTA MÃE)
Por que será que ele queria uma quarta mãe?, pensou a terceira. As duas mães confrontaram-se, mas quando ia realmente começar a discutir, um longo fio de cabelo escorreu pelos braços da viúva. Ela simplesmente entregou seu filho à outra jovem. A quarta mãe do menino ainda não tinha filhos. Seu marido a amava muito, mas a jovem morria de saudades da mãe, que morrera muito cedo. Mais uma vez, o menininho encheu a casa de felicidade. O casal adorava vê-lo caminhar, dizer as primeiras palavras, comer com uma bela colherinha de prata. Quando a felicidade entrou no coração da jovem mãe órfã, surgiu na vila uma doce velhinha. Seu olhar era muito bondoso, as mãos hábeis para fazer de tudo. A velhinha encontrou a quarta mãe na quitanda, fizeram amizade e decidiram que uma ajudaria a outra. Com o passar do tempo, ambas se tornaram tão unidas que todas pensavam que se tratava de mãe e filha. No dia do aniversário do menino dágua a festa estava cheia de doces, o bolo era o mais macio e saboroso que todos já haviam provado, e o menino simplesmente
saltou para o colo de uma quinta mãe.

(QUINTA MÃE)
A quinta mãe não era muita bem vista na cidade. Cheia de mistérios e sortilégios, ela gostava de caminhar ao luar, colher ervas no mato... O povo dizia que ela conhecia mais segredos do que devia! Quando o menino foi viver em sua casa, a mãe dos mistérios fabricou pequeninos brinquedos, carrinhos, animais em miniatura, para seu filhinho brincar. Ver o menino d brincar era uma alegria só. O garoto levava uma sacola para o meio da rua, espalhava seus brinquedos. Não havia criança na cidade que não os quisesse para si. Com o tempo, os pais passaram a encomendar brinquedos a quinta mãe. Ela o fez com tamanho carinho que conquistou o coração das crianças. Encantados com os castelinhos,cavalos e princesas em miniatura, a cidade passou a respeitá-la. No aniversário do menino dágua mãe dos mistérios resolveu encenar uma peça de teatro para que as crianças pudessem mostrar aos pais toda sua criatividade. A peça foi um enorme sucesso! No final, houve uma festa! Quando todos iam cumprimentar a mãe dos mistérios, o menino correu e sentou-se ao lado de outra pessoa. Chorando, a mãe inventora de brinquedos sabia o que lhe iria lhe acontecer. Ela se ajoelhou diante do menino, e um longo fio d’água escorreu por seu rosto. O menino apontou para todos que o cercavam. Ela compreendeu que seu tempo havia terminado, que a felicidade chegara para ela também .
Abraçou o garoto e o entregou para a sexta mãe.

(SEXTA MÃE)
Na casa da sexta mãe do menino d'água havia um garoto que ninguém na cidade conseguia compreender. Embora fosse filho de um casal feliz, o menino batia quando queria abraçar, calava-se quando queria falar, dizia palavras que eram realmente o oposto do queria se expressar. Por mais que a sexta mãe dissesse a todas as crianças da vila que seu filho tinha um bom coração, as crianças da vila o evitavam, e o menino crescia só sem amigos. Mas pouco tempo depois de o menino d'água ter se mudado para a casa do garoto, as coisas começaram a melhorar.
Se seu irmão lhe dava um tapa, ele reagia com um grande abraço; se o menino dizia palavras agressivas, ele respondia dando risadas; quando o menino se calava, ele o provocava até que conseguisse falar. A amizade entre os dois irmãos foi crescendo e ficando tão forte que outras crianças resolveram se aproximar deles. Ninguém conhecia tantas brincadeiras como aqueles dois! Passados alguns meses, as crianças da vila foram aceitando o jeito estabanado do menino e compreenderam que ele queria dizer quando falava a “língua do contrário”. No campeonato de futebol, o menino estabanado fez muitos gols e foi carregado no colo por todas as crianças.
Foi nesse exato momento que seu irmão de olhos d’água partiu.

(SÉTIMA MÃE)
Ninguém nunca soube muito bem quando nem como ele desapareceu.
Sabe-se apenas que ele caminhou em direção ao mesmo igarapé onde fora encontrado o que se conta até hoje nessa pequena vila no estado do Pará é que , na noite em que o garoto partiu,todas as pessoas que o conheceram tiveram o mesmo sonho, na mesma hora. No sonho, o menino de sete anos caminhava até a raiz de uma árvore, e das águas surgia sua verdadeira mãe. Belíssimo corpo delgado e elegante, os olhos dourados, os cabelos brilhantes como fios dágua multicoloridos. A mãe dágua abraçou o garoto, seus longos cabelos o envolveram como se fossem cipós vivos,
e ambos desapareceram deixando apenas um rastro de muita felicidade.

Atividade posterior em 7 grupos:
Injeção de notícia : Encontrar no jornal as Sete mães
Projeção da imagem do livro enquanto a narração como D.Mariana.

A leitura é como um rio: a história é capaz de conduzir como águas. No mergulho, intuimos imagens e significados. No fôlego, percebemos a vida. No movimento, percebemos aquela terceira margem, que esconde tantas lendas e zela pela alma dos homens. Incentivar a leitura é despertar o brio, encorajar o outro a se auto-conhecer. ´

Neste conto, cada "mãe do menino d'água" é uma condutora do fio que leva ao conhecimento.

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