Miliumas

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O livro em Movimento

terça-feira, abril 25, 2006

"Caminho louco e longo"

















"Caminho louco e longo"



adaptação para multimídia do livro de Guimarães Rosa Fita Verde no Cabelo da Editora Nova Fronteira ilustrada por Roger Melo.


Dados do Evento
Nome do Evento: performance multimídia ...

“Caminho louco e longo”

Público Alvo:


crianças, educadores e adolescentes.

Uma composição cênica multimídia a partir do livro de Guimarães rosa Fita verde no cabelo da editora nova fronteira mostra a união entre a literatura em cena e a tecnologia .



“Caminho louco e longo”


A partir do livro de Guimarães Rosa , Fita verde no cabelo, teremos uma performance realizada por duas equipes,uma que realizará a parte gráfica , um filme em com as ilustrações de Roger Melo ampliadas para a instalação onde se dará a contação de histórias e outra que se ocupará com a performance cênica.


Direção de Direção de imagens Spetto

Execução de imagens Markinho Mendonça
Direção de cena e adaptação Tecka Mattoso
Direção musical e coral Celso Coutro




Nova velha estória Ilustrada por Roger Mello.
Em comemoração ao centenário de aniversário de Guimarães Rosa estou preparando esta contação para 2008.

duas atrizes, um bailarino , música ao vivo.


MULHERES ROSIANAS Numa leitura do conto de fadas "Chapeuzinho Vermelho", Guimarães Rosa mostra a trajetória das fantasias de uma adolescente até o confronto com a morte de sua avó, quando "mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez". Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração e Melhor Produção Editorial pela Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores.

"- Quem é? - Sou eu ... - e Fita Verde descansou a voz. - Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou". FITA VERDE personagem feminina do conto "Fita verde no cabelo - nova velha estória, da obra: Ave, Palavra. João Guimarães Rosa. br>

A obra, citada, abaixo, reúne contos em que sobressaem os costumes e a linguagem das gentes de Minas. Inclui "A terceira margem do rio", clássico da literatura transformado em filme por Nelson Pereira dos Santos em 1993. É certamente o melhor livro para o jovem ser apresentado à literatura de Guimarães Rosa. Adquirido pela Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo. Prêmio Jabuti de Produção Gráfica (menção honrosa) em 2002. "Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo da água limpa, lugar chamado de Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes. Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. - "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." - dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou? - e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. (...) Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncio. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente". Maria (Nhinhinha), personagem feminina do conto "A menina de lá", da obra: Primeiras Estórias. João Guimarães Rosa. Homenagem do GEGR -

Edição nº86 - 02/08/02
Uma leitura do conto "Fita Verde no Cabelo", de Guimarães Rosa
O conto "Fita Verde no Cabelo", de Guimarães Rosa, é uma espécie de paráfrase à história de Chapeuzinho Vermelho. A simbologia, porém, é mais profunda e os personagens assumem foros metafóricos no universo diegético, como será observado no decorrer da presente análise.
Como na história original, no conto em apreço existia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor. Nota-se, assim, que o espaço e o tempo são sempre os mesmos e, por tal razão, irrelevantes.
A presença de neologismo, característica marcante em Guimarães Rosa, do verbo na terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito, velhavam, gera duas leituras. A primeira é de que as pessoas da terceira idade se conformavam com a própria condição e agiam nos moldes que a sociedade impunha, ou seja, limitavam-se a aguardar pela morte. A segunda, constitui-se, exatamente, no revés da anterior, caso em que o termo assume foros de reclamação constante e de rebeldia quanto ao processo de envelhecimento.
Enquanto os velhos velhavam, os adultos esperavam, ou seja, aguardavam o momento de também, a exemplo dos mais velhos, "velhar". A atitude é de intensa passividade, não se manifesta nenhum traço de rebeldia, mas, pura e simplesmente, de aceitação incontestável.
As crianças, por sua vez, é que aparecem dotadas de movimento, posto que nasciam e cresciam. É o mito do eterno retorno surgindo no ciclo vital com a infância, a ingenuidade e a inocência caracterizadas, essencialmente, na personagem da meninazinha de fita verde no cabelo.
A fita, diga-se, aliás, é inventada e da cor verde. Isso, por si só, revela uma enormidade de significações. O destaque é a alusão aos contos de fada, em que o "era uma vez" se faz necessário, remetendo à idéia de que o mundo imaginário pode se tornar real a qualquer momento.
Do mesmo modo, a cor verde está ligada à esperança e, ainda, ao processo de crescimento da menina. Em outras palavras, o texto apresenta o desabrochar para a vida, ou, ainda, a adolescência, momento em que o indivíduo começa a enxergar o todo, tomando-se de dores e epifanias aliadas à curiosidade de se sentir humano e participante do mundo.
Voltemos, porém, ao primeiro parágrafo do conto, em que todos tinham juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto.
Esta passagem, caracterizada por uma inversão e pela expressão por enquanto, bem confirma a temática a ser trata mais adiante, relativa ao desenvolvimento da garota de fita verde no cabelo.
Até então, a inocência é imperativa, restando, no entanto, evidentes as marcas já assinaladas de que tal fato não perdurará por muito tempo. E tanto é assim que, no parágrafo seguinte, aparece a figura da mãe determinando a ida à casa da avó. E lá seguiu a menina com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia.
Tudo rememora Chapeuzinho Vermelho, à exceção da fita verde e do poete que, naquela, aparecem sob a forma de um capuz vermelho e de um bolo. A menina, agora, aparece nomidade Fita-Verde, numa introspecção maior à história original.
Ao mesmo tempo, aparece, pela primeira vez, a expressão tudo era uma vez, ou seja, tudo semelhava aos contos de fada. Contudo, o pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas. O doce em calda, tipicamente mineiro, talvez esteja elencado apenas por uma questão regionalista do autor ou, talvez, para representar o conservadorismo de que podem estar imbuídas as pessoas, num reflexo da perenidade e invocando, ainda, os conjugados verbos velhavam e esperavam anteriormente discutidos.
Note-se que o cesto estava vazio, a menina tudo tinha para atravessar, aprender, viver. As framboesas, portanto, representam as experiências colhidas ao longo do percurso, da vida.
Atravessando o bosque, não viu nenhum lobo, apenas lenhadores, que por lá lenhavam. Há, aqui, neologismo, atribuindo à profissão uma ação verbalizada, ressaltando os aspectos oral e cotidiano do ofício.
Do lobo, só restou o medo, já que os próprios lenhadores cuidaram de exterminá-lo. Assim, podia, a garotinha, seguir tranqüilamente à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, como havia determinado a mãe, posto que a aldeia e a casa estavam esperando-a acolá, depois daquele moinho.
O caminho, no entanto, que parecia tão próximo, revela-se extremamente distante, desses que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.
E foi assim que Fita-Verde seguiu, ao contrário de Chapeuzinho Vermelho, pelo caminho louco e longo, e não o outro, encurtoso. O sufixo "oso" dá vazão ao pensamento de intencionalidade da personagem que resolveu seguir o caminho comum e recomendável, embora existisse a opção de, do mesmo modo, trilhar outro menos penoso, mais célere.
O processo de crescimento, aqui, resta evidente, pois a menina possui asas ligeiras e sua sombra vem-lhe correndo, em pós. As metáforas tomam maior corpo com a referência às avelãs do chão que não voavam, às borboletas nunca em buquê nem em botão e às plebeiinhas flores, princesinhas e incomuns ignoradas pela própria menina.
Todas essas imagens conduzem à uma maior e imperativa, a de que a garotinha está passando para dentro de si mesma, reconhecendo-se no e do mundo. E, por ser um momento extremamente solitário, interior e introspectivo, as borboletas não aparecem em buquê nem em botão, nem as avelãs voavam, como em outrora. Fita-Verde começa a enxergar os seres como verdadeiramente sã, sem emprestar-lhes um caráter mágico e irreal.
O conto de fadas, ao que demonstra, vai se tornando escasso à medida em que a menina desabrocha junto com as plebeiinhas flores, princesinhas e incomuns que a própria Fita-Verde não percebe ­ posto que vinha sobejadamente -, mas que, por extensão, são ela mesma.
Depois de muito andar, dá com a avó em casa, o que se percebe com a onomatopéia toque, toque e a resposta vinda lá de dentro: Quem é? A neta, então, responde um simples sou eu e descansa a voz para se auto-definir como linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo mandada pela mãe. Mas já não era a mesma ou estava prestes a deixar de ser.
A avó, nesse momento, determinou que entrasse e a abençoou. Fita-Verde assim procedeu e olhou a velhinha na cama, rebuçada e só. Concluiu, ainda, que devia, para falar agagado e fraco e rouco assim, de ter apanhado um ruim defluxo.
Fita-Verde, portanto, pela primeira vez na vida, deparou-se com a velhice escancarada e os perigos que dela advinham.
Nota-se que a expressão falar agagado, outro dos neologismos de Guimarães Rosa, indica, pelo emprego do sufixo "ado", o modo de falar da avó ocasionado por um terrível resfriado.
Ao mesmo tempo que a menina se depara com aquela imagem que se opunha ao desabrochar que estava vivendo, a avó sentencia: vem para perto de mim, enquanto é tempo.
Fita-Verde, agora, se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. É, portanto, a retratação do despertar para a vida e suas mazelas. A fita verde perdida é a garantia de que a inocência, até tão pouco tempo aquilatada, foi-se embora para sempre.
A menina, assim, está perto da estatização proclamada ao início do conto, com os velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, ou seja, tudo que antes produzia efeito epifânico no âmago de Fita-Verde, de um momento para outro é transformado em desolação e medo, como deixa transparecer na exclamação: Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!
E a resposta da avó não poderia ser pior: É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta...
A essa altura, Fita-Verde se desespera: Vovozinha, mas que lábios, ai, tão arroxeados! Note-se que o ai reflete, exatamente, o medo que saía dos olhos da menina.
A avó era implacável: É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta... Sempre reticente, a avó vai incutindo, ainda que de modo tácito, na menina, a idéia da fatalidade, do inevitável.
Mas Fita-Verde, aturdida, ainda outra vez se manifesta: Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido? É evidente que a garota já sabia o destino da avó, que, finalmente, sentenciou: É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha...
E a menina, movida pelo susto e pelo espanto, como se fosse ter juízo pela primeira vez, grita: Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!...
Não era o lobo da história de Chapeuzinho Vermelho que Fita-Verde temia. Era a morte, o despertar para a vida, a chegada do juízo, a transição da infância para a adolescência.
E, nesse momento, esteve, de fato, completamente sozinha, já que a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, frio, triste e tão repentino corpo. Em outras palavras, o processo de descoberta de si própria se completou no momento da morte da avó. Já não era mais Fita-Verde, era um ser no e do mundo.

Érica Antunes é advogada e professora e autora deste texto maravilhososo pesquisado na net.

Fita Verde no Cabelo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. Érica Antunes erica@navedapalavra.com.br Érica Antunes é advogada e professora. ...www.navedapalavra.com.br/ resenhas/1leituradocontofitaverde.htm - 14k


Referência Bibliográfica:
ROSA, João Guimarães. Fita Verde no Cabelo. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1992.

atrizes Tecka Mattosó e Gloriette
baílarino Thiago Antunes e Nilson Muniz
música ao vivo Flavio Fernandes e Celso Coutro


direção imagens VJ Spetto
imagens Markinho Mendonça
direçaõ musical Celso Coutro
direção de cenaTecka Mattoso


Objetivo :

" Montar o Livro em Movimento de Fita Verde no cabelo como uma poesia cênica em homenagem a Rosas..".







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