Miliumas

Miliumas
O livro em Movimento

quinta-feira, julho 03, 2008

Histórias narradas







Miliumas o livro em movimento



O Rio

Era aquela guerra sangrenta em Moçambique que já Durava mais de 10 anos.
Deus fez a chuva parar de chover para ver se a seca faria os homens sedentos de vida.Estava uma seca tão terrível na terra que não havia nem mais o que comer. 
Homens mortos por todos os cantos. Cada sobrevivente vivia seu resto de vida como podia, sozinho, escondendo-se um dos outros com medo de morrer de tiro, perdidos no meio do país, no meio de lugar nenhum. 
E lá no meio de lugar nenhum, bem perto do fim do mundo, estava Pedro.
Ele estava sozinho naquele lugar vazio e começou a pensar em como resolver o problema de sua vida e falta de água por ali. 
Foi quando decidiu que abriria um rio com as próprias mãos.
Muitos meses depois um menino perdido chamado kiriku, órfãos de mae e pai, passou por lá e viu aquele homem dentro de um vala, cavando um leito, com a mão sangrando. Eles conversaram um pouco, mas o homem nao queria largar seu trabalho. 
Quando kiriku estava quase seguindo seu caminho, o velho Pedro olhou para Kiriku e disse: se voce está sozinho nesse mundo como eu, ajude-me aqui a cavar o leito desse rio. E o kiriku, mais pela companhia do velho, aceitou o convite de todo coração. Machucou as manos também, porque nao tinham qualquer objeto para ajudar fazer aquele leito. Daí um dia Deus mandou uma chuva torrencial do céu.... kiriku se abrigou embaixo de uma cabana que o velho Pedro havia feito com galhos nos últimos anos. Mas Pedro não estava por lá. Quando Kiriku olhou para fora para procurar o velho Pedro, viu o rio cheio e o homem sorrindo e gritando: olha o meu rio, Kiriku! é o meu rio! é o meu rio!
 E foi essa a última vez que Kiriku viu o velho Pedro, que foi levado com o o rio de seus sonhos, para todo sempre.

história escrita por Patricia kalil a partir de livro de Mia Couto.

Mia Couto: O beijo da palavrinha

Com o lançamento no mercado brasileiro da editora Língua Geral, especializada em divulgar autores da língua portuguesa, e sua coleção intitulada Mama África, direcionada ao público infantil com contos tradicionais africanos escritos por autores consagrados e ilustrado por artistas plásticos igualmente prestigiados, resolvi analisar um título da coleção mencionada, a saber: O beijo da palavrinha, escrito por Mia Couto e ilustrado por Malangatana Valente. Dois artistas moçambicanos comprometidos com a sua terra, com a pluralidade cultural de seu país, com o bem-estar entre os homens das diversas “raças” e crenças, e que fazem do universo onírico o espaço necessário para perpetuar os seus desejos de liberdade, de preservação das culturas autóctones e de uma sociedade plural e pacífica.Em O beijo da palavrinha, Mia Couto conduz-nos ao interior de sua Moçambique, a um lugar onde vivia uma menina que nunca vira o mar, e para enfatizar a distância da localidade do litoral, afirma: 

viviam numa aldeia tão interior que acreditavam que o rio que ali passava não tinha nem fim nem foz. Logo na primeira página o autor contextualiza, de maneira simples e clara, o ambiente de dificuldades causados pela seca e miséria, que se confirma no próprio nome da personagem principal, Maria Poeirinha, a indicar o flagelo, a vida sem maiores aspirações da menina. Os nomes das personagens são fundamentais para compreender a obra continua. O uso da onomástica apresenta características que compõem os personagens de suas estórias. Há de se ressaltar também o trabalho gráfico que faz uso de uma fonte em tamanho reduzido, pequena e discreta na oração em que o nome da menina é apresentado em relação aos outros parágrafos desta página inicial a chamar a atenção do leitor-criança para a condição minúscula da personagem. Ao lado do texto temos a ilustração de Malangatana em uma de suas principais características, a imagem poluída por figuras humanas, confinadas e asfixiadas no espaço limitador da moldura da tela, estilo que brilhantemente representava a condição dos moçambicanos diante da ação colonizadora e da posterior guerra civil que assolou o país em diversas pinturas da sua carreira, além da cor vermelha constante na obra do artista, e principalmente as diversas expressões faciais encarando o leitor, que retratam espanto, tristeza, melancolia, dor e indiferença. O artista ilustra o povo da aldeia, procura valorizar a cultura autóctone, caracterizando suas pessoas com trajes típicos como cordões e ornamentos nas cabeças, e utensílios domésticos como um vaso.Diante da miséria em que a personagem vivia, até o sonho, espaço libertador dos descaminhos de um sofrido cotidiano, espaço para se escorar no universo onírico para dar asas à imaginação e trazer um pouco de alento a tão triste vida, nem nesse espaço ilimitado e livre a menina consegue desvencilhar-se de sua condição, como relata o autor: até Poeirinha tinha sonhos pequenos, mais de areia do que castelos. Às vezes se convertia em rio e seguia com passo lento, como a princesa de um distante livro, arrastando um manto feito de redemoinhos, remendos e retalhos. A descrição de seu manto representa o seu viver fragmentado e frágil como grãos de areia, a falta de ambição porque talvez nem saiba o que isto seja, e ausência de qualquer expectativa de melhora, pois o que imagina bom está distante como a princesa de um livro, condição esta que também é motivada pela hostilidade do ambiente em que vive. O seu espaço físico-geográfico hostil, é o que decepa as asas literárias do sonho para rapidamente recolocá-la no seu meio, na sua realidade crua, de pés descalços, intenso calor e rio seco: Mas depressa ela saía do sonho pois seu pés descalços escaldavam na areia quente. E o rio secava, engolido pelo chão. Enquanto isso, Malangatana representa em intensas alegorias o sonho da menina, porém percebemos um peixe enorme e furioso pronto para aboncanha-la e, assim, trazê-la para o seu mundo. E diante dos sonhos interrompidos, mais uma vez o predomínio dos tons avermelhados na ilustração.Dois coadjuvantes são apresentados. Primeiro, seu único irmão, Zeca Zonzo, que era desprovido de juízo. Cabeça sempre no ar, as idéias lhe voavam como balões em final de festa. A seguir, o tio Jaime Litorânio que achava um absurdo seus familiares não conhecerem o mar, pois este o havia aberto a porta para o infinito. Para Jaime Litorânio o mar era seu universo de liberdade contra as agruras da vida, como acreditava: havia, do outro lado do horizonte, uma luz que fazia a espera valer a pena. Deste lado do mundo, faltava essa luz que nasce não do sol mas das águas profundas. O mar, a porta para o infinito, um infinito de liberdade, sem pobreza, sem miséria que vinha das águas profundas, contrastando com o pélago profundo de Charles Baudelaire em As flores do mal. O mar infinito como lugar de refúgio, abrigo, acalanto, como lugar de toda cura contra as mazelas da vida. Assim pensava Jaime Litorânio, que destaca em seu nome sua paixão pelo mar. O infinito é destacado na diagramação das páginas desta passagem. E Malangatana retrata a luz deste mar profundo em figuras dispersas, apenas rostos, rostos impessoais, fragmentos de rostos flutuando (nadando) no espaço. O mar que exige a alma inteira, entregue para visualizar e reconhecer a mencionada luz, que pode ser a própria luz da pessoa que se dispõe a tal exercício libertário.Daí o tio crer que a cura da doença da menina, quando esta desenvolve uma terrível enfermidade que a leva à beira da morte, ser o momento exato para que conhecesse a praia e descobrisse outras praias dentro dela. A incredulidade dos moradores da aldeia apresenta-se: Mas o mar cura assim tão de verdade?, entretanto o tio permanece convicto e insiste na salvadora viagem. E Malangatana apresenta um destemido navegante na popa de um barco, cônscio de sua sagrada missão, a de conduzir a pobre Poeirinha que parece nos encarar assustada com a velocidade dos acontecimentos e proporcional rapidez da morte que se aproxima.Contudo, a viagem não se concretiza em razão da elevada fragilidade da menina. As pessoas não sabem o que fazer e sua mãe começa a entoar as velhas melodias de embalar. Em vão. Momento que Malangatana registra com lirismo comovente o leito de morte de Poeirinha, cercada por conhecidos e sua mãe que pega a sua mão. Todos já se conformam com a morte de Poeirinha, já preparavam as finais despedidas, até que aparece na cena seu irmão Zeca Zonzo com um papel e uma caneta.Zeca Zonzo informa que vai mostrar o mar para irmã e surpreende a todos ao não desenhar o que esperavam, como um oceano azul cheio de peixes. Zonzo apenas rabiscou com letra gorda a palavra “mar”. Apenas isso: a palavra inteira e por extenso. Zonzo ainda não sabe o que fazer, até que sua irmã murmura em débil suspiro: Não vale a pena, mano Zonzo. Eu já não distingo letra, a luz ficou cansada, tão cansada que já não consegue se levantar. Os olhos, as pálpebras sem forças para se levantar, a luz cansada. Faróis, faróis de luz que iluminam a vida. O olhar distante da menina que olha apenas de soslaio para a discreta claridade no alto a sua esquerda, a remeter características barrocas, como o claro x escuro, o contraste entre o terreno e o sagrado, a posição superior diagonal da luz invadindo a ilustração e o tratamento granulado empregado pelo artista na realização da obra.Com a fragilidade da irmã, Zeca Zonzo resolve ajudá-la: Não importa, Poeirinha. Eu lhe conduzo o dedo por cima do meu. Sendo, em seguida, repreendido pelos pais que achavam se tratar de mais um desvario da criança vazia, porém o menino está determinado no seu objetivo e guia o dedo da menina sobre os traços que desenhara. Todavia, Poerinha denuncia sua condição e, entre murmúrios, diz: Estou tocando sombras, só sombras, só. É a vida que se esvai do corpo, desprendendo-se para outro plano, outra vida, como a aura disforme retratada por Malangatana que envolve e se vai do corpo físico para o plano espiritual, a caminhar sozinha em um novo mundo desconhecido, um mundo de sombras, o que é realçado na diagramação do texto com o destaque para a palavra só com a fonte em tamanho maior.Entretanto, Zeca Zonzo insiste e sopra os dedos da irmã como se corrigisse algum defeito e os ensinasse a decifrar a lisa brancura do papel. Com o dedo guiado pelo irmão, Poeirinha consegue decifrar a primeira letra, o “m”, momento em que os dois sorriem sem que os outros presentes compreendessem o motivo da alegria. A letra “m” é descrita pelo narrador como feita de vagas, líquidas linhas que sobem e descem, e Poeirinha recorda-se das ondas do rio: Essa letra é feita por ondas. Eu já as vi no rio.E passa para a letra “a”. É uma ave, uma gaivota pousada nela própria, enrodilhada perante a brisa fria. Nesta passagem, Malangatana representa a dor da menina em seu leito com a gaivota imaginária. Os dois em coro decidiram não tocar mais na letra para não espantar o pássaro que havia nela. As pessoas ao redor estavam emudecidas diante das crianças que chegam à última letra: É uma letra tirada da pedra. É o “r” de rocha. E os dedos da menina magoaram-se no r duro, rugoso, com suas ásperas arestas. Mais uma vez o vermelho ressurge na pintura de Malangatana, os dedos da menina sangram, mas o olhar não revela dor, mas sim, um distanciamento, um vazio, talvez o fim que se anuncia.Emocionado diante da situação o tio Jaime Litorânio diz: Calem-se todos: já se escuta o marulhar! O som do mar que anuncia a mudança de estado de Poeirinha. E abre-se espaço para o universo onírico de Mia Couto aparecer com a reconhecida maestria: Então, do leito de Maria Poeirinha se ergueu a gaivota branca, como se fosse um lençol agitado pelo vento. É o vôo da liberdade para uma nova vida sem as agruras da vida terrena. É retomando o sonho da menina transcrito no início do livro e o fantástico surge entre as palavras e viajamos com a gaivota branca ou no rio dos seus sonhos. Então, do leito de Maria Poeirinha se ergueu a gaivota branca, como se fosse um lençol agitado pelo vento. Era Maria Poeirinha que se erguia? (...) Ou era ela seguindo no rio, debaixo do manto de remoinhos, remendos e retalhos? A paz, a liberdade e a harmonia sendo conduzidas nas asas de um pássaro, animal que tantas vezes aparece na literatura moçambicana, não só em Mia Couto, mas também nas poemas de Luís Carlos Patraquim e Eduardo White, e constantemente representado nas pinturas de Roberto Chichorro.Em O último voo do flamingo, Mia Couto narra a lenda do flamingo e do nascimento da noite. Conta sobre um flamingo que um dia resolve não mais voar, que está cansado de viver e que deseja ir a um lugar onde só há luz, mas não é dia, e a ave parte e diz aos seus pares: não quero mais pousar, só repousar. E parte em direção ao sol poente:Então, o flamingo se lançou, arco e flecha se crisparam em seu corpo. E ei-lo, eleito, elegante, se despindo do peso. Assim, visto em voo, dir-se-ia que o céu se vertebrara e a nuvem adiante, não era senão alma de passarinho. Dir-se-ia mais: que era a própria luz que voava. E o pássaro ia desfolhando, asa em asa, as transparentes páginas do céu. Mais um bater de plumas e, de repente, a todos pareceu que o horizonte se vermelhava. Transitava de azul para tons escuros, roxos e liliáceos. Tudo se passando como um incêndio. Nascia, assim, o primeiro poente. Quando o flamingo se extinguiu, a noite se estreou naquela terra.Ou seja, os pássaros são tidos como animais sagrados que também fazem essa transição do mundo dos vivos para o mundo dos mortos.Terna e bela é a última ilustração de Malangatana, ao retratar a menina em seu leito de morte, cercada por seus familiares com olhares complacentes após o seu derradeiro suspiro. O fundo azul simbolizando o mar, a colcha de retalhos, os peixes e a sua passagem desta para outra vida.Não apenas por ser um livro infantil, mas as crianças são bastante representativas nas literaturas africanas de língua portuguesa, pois estão mais próximas dos antepassados devido a pouca idade, assim como os mais velhos que também estão mais próximos, mas pelo avançar da idade. As crianças são argutas, espertas, observadoras e inocentes, e geralmente ajudam a solucionar conflitos, vivenciam os dramas do período colonial e da guerra. Em O beijo da palavrinha, o personagem Zeca Zonzo era tratado como um menino que nada sabia, nada resolvia, desprovido de juízo, entretanto, partiu dele a idéia de ajuda a irmã, surpreendendo a todos, e mostrando a ela como era o mar, porque nem o tio Jaime Litorânio com todo o seu amor pelo mar conseguiu apresentar à menina como era o oceano, e o menino, de maneira lúdica, teve a felicidade de conduzi-la ao mar através da leitura e da escrita. É importante frisar a presença desses dois últimos componentes na construção de Moçambique independente, e o autor Mia Couto foi um dos participantes nesse processo de divulgação e unificação da nação pela língua portuguesa.Podemos fazer a seguinte analogia a partir da atitude dos dois irmãos, o estado de saúde de Maria Poeirinha com a palavra “mar” e a tríade início-meio-e-fim. O “m” de mar com suas ondas que sobem e descem, como a condição da menina extremamente doente em seu leito de morte; a letra “a” do mar como a gaivota pousada nela própria, enrodilhada perante a brisa fria, momento em que todos ao redor haviam se calados pela perplexidade com que a criança vai sendo apresentada ao mar ou pela brisa fria, o vento frio a indicar que algo de ruim estaria por vir, enquanto as crianças, no universo imaginário, preocupavam-se em não demorar com o toque sobre a letra para não espantar o pássaro que ali estava; e quando encerram a leitura e a escrita da palavra mar a menina reconhece a letra “r”, o r da rocha. E os dedos da menina magoaram-se no rugoso r duro, rugoso, com suas ásperas arestas. A letra “r” muito bem observada pelo autor por causa da sua tipografia. O “r” de rocha que encerra a onda, local de repouso das aves, rocha na beira do mar de vento frio a simbolizar o fim, o término da vida de Maria Poeirinha.E assim a menina é conduzida pela gaivota e navega no derradeiro sonho.Eis minha mana Poeirinha que foi beijada pelo mar. E se afogou numa palavrinha.
PosseidonAfroditeNetunoIemanjaNo Reino das àguas ClarasOxumiara O botoOvelho e o mar Ernest HemingwayUma noite no meio Heloísa PrietoO maré tudo o que nos queremos fazer e não fizemos tudo o que quis começar a falar sem encontrar as palavras certas tudo o que nos deixou sem dizer o seu secreto tudo o que podemos tocar ou escavar até com ferro sem nunca atingi-loo que tornou-se ondas e ondas ainda, porque esta à procura de si mesmo sem nunca achar-seo que tornou-se esteira por alguns segundos, por gosto fundamental do eternas que adianta na profundidade e nunca tornar a à superfície que adianta na superfície e teme a profundidadeIsso e muito mais,o marJules Supervielle 1884 – 1960Lenda da abóbora tradição oral AfricaEra uma vez um menino chamado João , João abóbora , apelido dado porque ele gostava muito de abóbora.Gostava de tudo com abóbora, doce de abóbora, feijão com abóbora, arroz com abóbora.Porisso então, pegou umas sementes e e foi ao alto de uma montanha e enterrou . Plantou sim com muito amor, e cuidava com todo o seu carinho .Um dia muito quente , João subiu a montanha para regar a planta e se surpreendeu ao ver o quanto ela estava grande e para ver se já estava madura, deu três leves batidinhas na abóbora , e ela , para um grande susto ,se desprendeu da terra e veio rolando para o lado de João, e ainda por cima gritando:
-Bateu na minha cabeça que coisa feia, eu vou rolar por cima de você.
E veio descendo a montanha com João desesperado correndo na frente , parecia uma brincadeira mas pela fúria João via viu então que era o caso era muito sério.Ela rolava e gritava com ira.
Ele viu uma cabana, da sua querida tia, entrou correndo , fechou a porta e pediu abrigo , mas a a abóbora enfurecida desceu e rolou com tanta força que rolou em cima casinha destruindo tudo que havia dentro dela, e vinha gritando:
-Bateu na minha cabeça que coisa feia, eu vou rolar por cima de você!João correu para uma plantação de eucalipto que tinha lá perto e viu a abóbora que vinha gritando:
-Bateu na minha cabeça que coisa feia eu vou rolar por cima de você e rolou pela floresta inteira , que virou apenas uns gravetos fiminhos como um palito de dentes .
João saiu desesperado pelo pasto quando viu uma vaca pastando tranquila , sua querida amiga Branquinha e deitou em baixo dela pedindo proteção e lá vinha a abóbora gritando e rolando e a vaquinha tranquila e calma como a vida é :
-Bateu na minha cabeça que coisa feia eu vou rolar por cima de você.A vaquinha então se preparou , deu um passo para trás raspando o chão , raspou a pata no chão , abaixou a cabeça e deu-lhe uma chifrada só que de uma só vez , separou a abóbora em dois pedaços, o direito virou a lua, o da esquerda o sol ...e as sementes?
São as estrelas do céu!!!!
(conto africano da minha lembrança).
" Eu quebrei a cabaça , joguei a semente lá no lavral...para nascer, como a vida é.!!!!"Stamos em pleno mar. Castro AlvesPalomar de Ítalo Calvino O seio núimagens de marIemanjá a DeusaPosseidonEncontro entre as águasIemanjálivros apresentadoshenriqueta lisboaviagem pelo brasil em 52 histórias
isto aqui eh uma chuva de textosmandem mais para fazermos uma criacao coletiva virtual mundial uma em cada canto patricia Cléo tecka


PALOMAR NA PRAIA
Leitura de uma onda

ITALO CALVINO

O mar está levemente encrespado e pequenas ondas quebram na praia arenosa. O senhor Palomar está de pé na areia e observa uma onda.Não que esteja absorto na contemplação das ondas. Não está absorto, porque sabe bem o que faz: quer observar uma onda e a observa. Não está contemplando, porque para a contemplação é preciso um temperamento conforme, um estado de ânimo conforme e um concurso de circunstâncias externas conforme: e embora em princípio o senhor Palomar nada tenha contra a contemplação, nenhuma daquelas três condições, todavia, se verifica para ele. Em suma, não são "as ondas" que ele pretende observar, mas uma simples onda e pronto: no intuito de evitar as sensações vagas, ele predetermina para cada um de seus atos um objetivo limitado e preciso.O senhor Palomar vê uma onda apontar na distância, crescer, aproximar-se, mudar de forma e de cor, revolver-se sobre si mesma, quebrar-se, desfazer-se. A essa altura poderia convencer-se de ter levado a cabo a operação a que se havia proposto e ir-se embora.Contudo, isolar uma onda da que se lhe segue de imediato e que parece às vezes suplantá-la ou acrescentar-se a ela e mesmo arrastá-la é algo muito difícil, assim como separá-la da onda que a precede e que parece empurrá-la em direção à praia, quando não dá até mesmo a impressão de voltar-se contra ela como se quisesse fechá-la. Se então considerarmos cada onda no sentido de uma amplitude, paralelamente à costa, será difícil estabelecer até onde a frente que avança se estende contínua e onde se separa e se segmenta em ondas autônomas, distintas pela velocidade, a forma, a força, a direção.Em suma, não se pode observar uma onda sem levar em conta os aspectos complexos que concorrem para formá-la e aqueles também complexos a que essa dá ensejo. Tais aspectos variam continuamente, decorrendo daí que cada onda é diferente de outra onda; mas da mesma maneira é verdade que cada onda é igual a outra onda, mesmo quando não imediatamente contígua ou sucessiva; enfim, são formas e seqüências que se repetem, ainda que distribuídas de modo irregular no espaço e no tempo. Como o que o senhor Palomar pretende fazer neste momento é simplesmente ver uma onda, ou seja, colher todos os seus componentes simultâneos sem descuidar de nenhum, seu olhar se irá deter sobre o movimento da água que bate na praia a fim de poder registrar os aspectos que a princípio não havia captado; tão logo se dê conta de que as imagens se repetem, perceberá que já viu tudo o que queria ver e poderá ir-se embora.Homem nervoso que vive num mundo frenético e congestionado, o senhor Palomar tende a reduzir suas próprias relações com o mundo externo e para defender-se da neurastenia geral procura manter tanto quanto pode suas sensações sob controle.A crista da onda vindo para a frente ergue-se num determinado ponto mais do que nos outros e é ali que começa a se preguear de branco. Se isto acontece a certa distância da praia, a espuma tem tempo de revolver-se sobre si mesma e desaparecer de novo como que tragada e no mesmo momento tornar a invadir tudo, mas desta vez surgindo de baixo, como um tapete branco que soergue a fímbria para acolher a onda que chega. Porém, quando se espera que a onda role sobre o tapete, damo-nos conta de que já não existe mais a onda, mas apenas o tapete, e mesmo esse rapidamente desaparece, torna-se uma cintilação da areia alagada que se retira veloz, como se para contê-lo houvesse um expandir-se da areia seca e opaca avançando seu rebordo ondulado.Ao mesmo tempo precisa-se considerar as reentrâncias da frente, em que a onda se divide em duas alas, uma que tende em direção à praia da direita para a esquerda e outra da esquerda para a direita, e o ponto de partida ou de chegada dessa divergência ou convergência é aquela ponta em negativo que segue o avançar das alas mas sempre se mantendo um pouco atrás e sujeita ao sobrepor-se alternado delas, para que não venha a ser alcançada por uma outra onda mais forte embora também esta com o mesmo problema de divergência-convergência, ou talvez por outra ainda mais forte que resolva o impasse rompendo o nó.Tomando como modelo o desenho das ondas, a praia avança na água pontas apenas esboçadas que se prolongam em bancos de areia submersos, como as correntes os formam e desfazem a cada maré. Foi uma dessas línguas baixas de areia que o senhor Palomar escolheu como ponto de observação, porque as ondas nelas batem obliquamente de uma parte e de outra, e ao cavalgarem por cima da superfície semi-submersa vão encontrar-se com as que chegam da outra parte. Assim, para se compreender como uma onda é feita é necessário ter-se em conta esse impulso em direções opostas que em certa medida se contrabalançam e em certa medida se somam, e produzem um quebrar geral de todos os impulsos e contra-impulsos no mesmo alagar de espuma.O senhor Palomar está procurando agora limitar seu campo de observação; se tem presente um quadrado de, digamos, dez metros de praia por dez metros de mar, pode levantar um inventário de todos os movimentos de ondas que ali se repetem com freqüência variada dentro de um dado intervalo de tempo. A dificuldade está em fixar os limites desse quadrado, porque, por exemplo, se ele considera como o lado mais distante de si a linha em relevo de uma onda que avança, essa linha ao aproximar-se dele irá, erguendo-se ocultar de sua vista tudo o que está atrás; e eis que o espaço tomado para exame se destaca e ao mesmo tempo se comprime.Contudo, o senhor Palomar não perde o ânimo e a cada momento acredita haver conseguido observar tudo o que poderia ver de seu ponto de observação, mas sempre ocorre alguma coisa que não tinha levado em conta. Se não fosse pela impaciência de chegar a um resultado completo e definitivo de sua operação visiva, a observação das ondas seria para ele um exercício muito repousante e poderia salvá-lo da neurastenia, do infarto e da úlcera gástrica. E talvez pudesse ser a chave para a padronização da complexidade do mundo reduzindo-a ao mecanismo mais simples.Mas todas as tentativas de definir este modelo devem levar em consideração uma onda que sobrevêm em direção perpendicular ao quebra-mar e paralela à costa, fazendo escorrer uma crista contínua e apenas aflorante. Os saltos das ondas que se desgrenham para a praia não perturbam o impulso uniforme dessa crista compacta que a corta em ângulo reto sem que se saiba para onde vai nem de onde vem. Pode ser um fio de vento do nascente que move a superfície do mar em sentido transversal à corrida profunda que vem das massas de água do largo, mas essa onda que nasce do ar recolhe de passagem também os impulsos oblíquos que nascem da água e os desvia e os corrige em seu sentido levando-os consigo. Assim vai continuando a crescer e a tomar forma para que o encontro com as ondas contrárias não a amorteça aos poucos até fazê-la desaparecer, ou então a força até fazê-la confundir-se numa das tantas dinastias de ondas oblíquas, levada à praia com as outras.Prestar atenção em um aspecto faz com que este salte para o primeiro plano, invadindo o quadro, como em certos desenhos diante dos quais basta fecharmos os olhos e ao reabri-los a perspectiva já mudou. Além do mais nesse entrecruzar-se de cristas diversamente orientadas o desenho de conjunto se torna fragmentado em espaços quadrados que afloram e se desvanecem. Acresce que o refluxo de cada onda também possui uma força que se opõe às ondas supervenientes. E se concentrarmos a atenção nesses impulsos retroativos vai nos parecer que o verdadeiro movimento é aquele que parte da praia em direção ao largo.Será que o verdadeiro resultado a que o senhor Palomar está prestes a chegar é o de fazer com que as ondas corram em sentido oposto, de recuar o tempo, de discernir a verdadeira substância do mundo para além dos hábitos sensoriais e mentais? Não, ele chega até a experimentar um leve sentido de reviravolta, mas é tudo. A obstinação que impulsiona as ondas em direção à costa já ganhou a parada: de fato, elas aumentaram bastante. O vento estaria mudando? É pena que a imagem que o senhor Palomar havia conseguido organizar com tanta minúcia agora se desfigure, se fragmente e se perca. Só conseguindo manter presentes todos os aspectos juntos, ele poderia iniciar a segunda fase da operação: estender esse conhecimento a todo o universo.Bastaria não perder a paciência, coisa que não tarda a acontecer. O senhor Palomar afasta-se ao longo da praia, com os nervos tensos como havia chegado e ainda mais inseguro de tudo.

FONTE: CALVINO, Italo. Palomar.tradução de Ivo barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p.7-11.


O seio nu


"O senhor Palomar caminha ao longo da praia solitária. Encontra raros banhistas. Uma jovem está estendida na areia tomando banho de sol com os seios à mostra. Palomar, homem discreto, volve o olhar para o horizonte marinho. Sabe que, em tais circunstâncias, a aproximação de um desconhecido leva as mulheres a se cobrirem depressa, e isso não lhe parece bom: porque é desagradável para a banhista que tomava seu sol tranquila; porque o homem que passa se sente um elemento perturbador; porque o tabu da nudez fica implicitamente confirmado; e porque as convenções respeitadas pela metade propagam insegurança e incoerência no comportamento em vez de liberdade e franqueza.Por isso é que ele, mal vê esboçar-se ao longe o perfil brônzeo rosado de um torso feminino nu, apressa-se em assumir com a cabeça uma postura tal que a trajetória de seu olhar permaneça suspensa no vazio e garanta seu respeito civil pela fronteira invisível que circunda as pessoas."Contudo", pensa, seguindo adiante e, mal o horizonte se desobstrui, readquirindo o livre movimento do bulbo ocular, "eu, assim procedendo, ostento uma recusa em ver, ou seja, também acabo por reforçar a convenção que torna ilícita a vista de um seio, ou melhor, instituo uma espécie de soutien mental suspenso entre os meus olhos e aquele seio que, do deslumbramento surgido dos confins de meu campo visual, pareceu-me jovem e agradável à vista. Em suma, o meu não-olhar pressupõe que eu esteja pensando naquela nudez, que me preocupe com ela,e isto é, no fundo, ainda uma atitude indiscreta e retrógada."Voltando de seu passeio, Palomar passa de novo em frente à banhista, e desta vez tem o olhar fixo diante de si, de modo que esta aflore com uma imparcial uniformidade a espuma das ondas que se retraem, os cascos dos barcos puxados para o seco, o lençol de espuma estendido sobre a areia, a lua transbordante de pele mais clara com o halo moreno do mamilo e o perfil da costa do embaciamento da distância, acinzentada contra o céu."Muito bem", reflecte, satisfeito consigo mesmo, prosseguindo o caminho, "consegui fazer com que o seio fosse absorvido completamente na paisagem, e também que meu olhar não passasse mais que o olhar de uma gaivota ou de um peixe.""Mas será realmente justo proceder assim?", reflecte ainda, "não será isso rebaixar a pessoa humana ao nível das coisas, considerá-la um objecto, e o que é pior, considerar objecto aquilo que na pessoa é específico do sexo feminino? Não estarei talvez a perpetuar o velho hábito da supremacia masculina, endurecida com o passar dos anos numa insolência rotineira?"Volta e torna a voltar sobre seus passos. Ora, ao fazer com que seu olhar deslize sobre a praia com objectividade imparcial, procede de maneira que, mal o seio da moça penetre em seu campo de vista, se note uma descontinuidade, um desvio, quase um sobressalto. O olhar avança até quase aflorar a pele estendida, retrai-se, como que avaliando com um leve estremecimento a consistência diversa da visão e o valor especial que essa adquire, e por um momento permanece a meia altura, descrevendo uma curva que acompanha o relevo do seio a uma certa distância, elusivamente mas também protectoramente, para depois retomar seu curso como se nada houvesse acontecido."Creio que assim minha posição se manifestará bem clara", pensa Palomar, "sem mal-entendidos possíveis. Mas esse sobrevôo do olhar não poderia afinal de contas ser compreendido como uma atitude de superioridade, uma supervalorização daquilo que um seio é e significa, um modo de mantê-lo de certa maneira à parte, à margem ou entre parênteses? Eis que então volto a relegar o seio à penumbra em que o mantiveram durante séculos a pudicícia sexomaníaca e a concupiscência como pecado..."Essa interpretação vai contra as melhores intenções de Palomar, que embora pertencendo a uma geração madura, para a qual a nudez do peito feminino se associava à ideia de uma intimidade amorosa, aceita de maneira favorável essa mudança nos costumes, seja pelo que isso representa como reflexo de uma mentalidade mais aberta na sociedade, seja porque tal vista lhe resulte particularmente agradável. É esse encorajamento desinteressado que gostaria de exprimir em seu olhar.Faz meia-volta. Em passos decisivos avança mais uma vez em direcção à moça estendida ao sol. Agora seu olhar, lambendo voluvelmente a paisagem, deter-se-á no seio com especial cuidado, mas apressando-se em envolvê-lo num impulso de benevolência e gratidão por tudo, pelo sol e o céu, pelos pinheiros recurvo s e a duna e a areia e os escolhos e as nuvens e as algas, pelo cosmo que gira em torno daquelas cumes aureolados.Isso deveria bastar para tranqüilizar devidamente a banhista solitária e desobstruir o campo das ilações desviadoras. Porém, mal ele volta a aproximar-se, eis que a moça se levanta de um salto, cobre-se, e esbaforida afasta-se com um aborrecido sacudir de ombros como se fugisse das insistências molestas de um sátiro."O peso morto de uma tradição de maus costumes impede-a de apreciar com justo mérito as intenções mais iluminadas", conclui amargamente Palomar. "


Iemanjá

No Brasil, é muito venerada, e seu culto tornou-se quase independente do CANDOMBLÉ. É representada como uma sereia de longos cabelos pretos. Rege a maternidade, é mãe dos peixes que representam fecundidade. Seu dia é sábado. Nas grandes "obrigações", são oferecidos cabra branca, pata ou galinha branca. Gosta muito de flores e é costume oferecer-lhe de quatro a sete rosas brancas abertas, que são jogadas ao mar para agradecimento. Sua cor é o branco com azul. Usa um ADÉ com franjas de miçangas que esconde o rosto. Leva na mão o BÉBÊ -- leque ritual de metal prateado de forma circular, com uma sereia recortada no centro.YEMANJÁ, por presidir a formação da individualidade, que como sabemos está na cabeça, está presente em todos os rituais, especialmente o BORI.È a rainha de todas as águas do mundo, seja dos rios, seja as do mar. Seu nome deriva da expressão YéYé Omó Ejá, que significa, mãe cujo filhos são peixes. Na África era cultuada pelos egbá, nação Iorubá da região de Ifé e Ibadan onde se encontra o rio Yemojá. Esse povo se tranferiu para a região de Abeokutá, levando consigo os objetos sagrados da deusa, e foram depositados no rio Ogum, o qual, diga-se de passagem, não tem nada a ver com o Orixá Ogum, apesar de no Brasil Yemojá ser cultuada nas águas salgadas, sua orígem é de um rio que corre para o mar. Inclusive, todas as suas saudações, orikís e cantigas remetem a essa orígem, Odó Iyà por exemplo, significa mãe do rio, já a saudação Erù Iyà faz alusão às espumas formadas do encontro das águas do rio com as águas do mar, sendo esse um dos locais de culto a Yemonjá.Yemanjá é a mãe de todos os filhos, mãe de todo mundo; É ela quem sustenta a humanidade e, por isso, os órgão que a relacionam à maternidde, ou seja, sua vulva e seus seios chorosos, são sagrados.Yemanjá que se estende na amplidão,Aiyabá que vive na água funda,Faz amata virar estrada,Bebe cachaça na cabaça,Permanece plena em presença do rei.Yemanjá se vira quando vem a ventania,Gira e rodopia em volta da vila.Yemanjá descontente destrói pontes.Come na casa, come no rio...Mar, dono do mundo,Que seria qualquer pessoa.Velha dona do mar.Fêmea flauta, acorda em acordes na casa do rei,Descansa qualquer um em qualquer terra.Cá na terra, cala-à flor-dàgua, fala...


A filha do feiticeiro lenda Viking
A pequena sereia de Andersen
O pescador e sua alma oscar wilde
Os meninos do mangue Roger mello




A lenda das pedras verdes

Antes das festas do amor , havia a jornada expiatória ao formosíssimo lago do espelho da lua, tão belo quanto misterioso e oculto na profanação dos homens pela mais ínvia e grutesca das regiões alpestres do nosso continente , na grande ilha , que é a maior do mundo , formada pelo Orenoco , o Rio Negro e o Amazonas, ligados pelo canal de Cassiquiare.Reunidas alem torno do lago sagrado , nas noites de luar da mais bela das estações , as icamiabas celebravam a festa de yaci , a lua, a mais querida e temerosa das filhas selvagens .Subiam então aos céus , no meio da imensidade do sertão amazônico , os cantos que nenhum ouvido de homem pode ouvir nem ouvirá jamais .O óleo balsâmico do Umiry e a fina essência do molongó recendiam nos ares como uma oblação aromal à deusa das noites serenas , que tece com os raios de prata os filtros misteriosos dos invisíveis amores e das germinações.Maceradas e longas vigílias e de flagelações as filhas de Yaci caiam em extase antes de obterem a purificação suprema das águas cristalinas do Espelho da Lua em cujo fundo mora a mãe dos Muiraquitans ou Pedras Verdes .Quando, a horas mortas , a face da lua se refletia bem clara na superfície polida do seu liquido Espelho, então as amazonas mergulhavam nas águas e recebiam das maõs da mãe das pedras verdes , como penhor da sua consagração , o presente dessas jóias sagradas.


Henriqueta Lisboa editora Peiropolis Literatura oral para a infância e juventude pagns 42 e 43.

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